quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

bolha de sabao



Ainda fechei a janela para retê-la, mas com sua superfície que refletia tudo ela avançou cega contra o vidro. Milhares de ossos e não enxergava. Deixou um círculo de espuma. Foi simplesmente isso, quando ele tomou a mulher pelos braçose perguntou: "Vocês já se conheciam?" Sabia muito bem que nunca tínhamos nos visto mas gostava dessas frases acolchoando situações, pessoas. Estávamos num bar e seus olhos de egípcia se retraíam apertados. A fumaça, pensei. Aumentavam e diminuíam até que se reduziam a dois riscos de lápis-lazúli e assim ficavam. A boca polpuda também se apertou, mesquinha. Tem boca à-toa, pensei. Artificiosamente sensual, à-toa. Mas com é que um home como ele, um físico que estudava a estrutura das bolhas, podia amar uma mulher assim? Mistérios, eu disse e ele sorriu, nos divertíamos em dizer fragmentos de idéias, peças soltas de um jogo que jogávamos meio ao acaso, sem encaixe.
Convidaram-me e eu sentei, os joelhos de ambos encostados aos meus, a mesa pequena enfeixando copos e hálitos. Me refugiei nos cubos de gelos amontoados no fundo do copo, cheguei a sugerir, ele podia estudar a estrutura do gelo, não era mais fácil? Mas ela queria fazer perguntas.
(...)
Embora grave, curiosamente minha voz varou todas as camadas do meu peito até tocar fundo onde as pontas todas acabavam por dar, que nome tinha? Esse fundo, perguntei e fiquei sorrindo para o homem e seu espanto. Expliquei-lhe que era o jogo que eu costumava jogar com ele, com esse meu amigo, o físico. O informante riu. "Juro que não fosse encontrar no mundo um cara que estudasse um troço desses", resmungou voltando-se rápido para apanhar dois copos na bandeja, ô! tão longe ia a bandeja e tudo o mais, fazia quanto tempo? "Me diga uma coisa , vocês não viveram juntos?", lembrou-se o homem de perguntar. Peguei no ar o copo borrifando na tormenta. Estava nua na praia. Mais ou menos, respondi.
(...)




por correr

Quando os quatro combinaram, o quinto já estava morto. Mas ele nao sabia e seguiu vivendo. E como tudo o que vive cansa, dormiu. De forma que por isso demorou a abrir a porta quando os quatro bateram de madrugada. Correu por correr, porque tudo o que é vivo corre da morte, ainda que seja corrida de sair perdido. O que falava pelos quatro era o que tinham nas maos, de forma que ninguém disse nada. Tiro foi muito, que ninguém ouviu. Endureceu embaixo da cama mesmo, naquela posiçao de quem quisesse agarrar esse vento que nos entra pela boca bem agora.

(in Chacina. 100 coisas.)






mary ann meets the grave diggers





"lady lights a cigarette

puffs away, no regret

takes a look around, no regrets, no regrets

stretches out like branches of a poplar tree

she says, i'm free

sings so soft as if she'll break,"

(Lady)

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"white lines on your mind

keep it steady

you were never ready

for the lies..."

(Edit)


II



Eu também, nao resisto. Dans mon île, vendo a barca e as gaivotinhas passarem. Sua resposta vem de barca e passa qui, muito rara.
Quando tenho insônia me lembro sempre de uma gaffe e de um anúncio do museu: "To see all these works together is an experience not to be missed". E eu nem anda. Fiz misérias nos caminhos do conhecer. Mas hoje estou doente de tanta estupidez porque espero ardentemente que alguma coisa...divina aconteça. F for fake. Os horóscopos também erram. Me escreve mais, manda um postal do azul (eu nao me espanto). O lugar do passado? Na próxima te digo quem sao os 3, mas os outros grandes... eu resisto.
Nao fica aborrecida: beijo político lábios de cada amor
que tenho.

time is over

"(You don't love me.) Always thinking about yourself
(I am an animal.) Always thinking about yourself
(I'm not practical.) Always thinking about yourself...

(Always thinking about yourself)You don't wanna trust nobody
else"
(de quem nao me lembro)